Passei o dia todo com essa tela em branco na minha frente. O dia todo pensando no que escrever. Tantas coisas aconteceram nos últimos dias, que ainda estou pondo tudo em ordem antes de tirar a lição de moral.
Entre tantas indas e vindas, me deparei com uma senhora no aeroporto, que sorria com verdadeira felicidade. O suficiente para que seu rosto se tornasse vermelho e seus olhos brilhassem. Enquanto esperávamos a bagagem sair daquele buraco profundo e misterioso que leva aos carrinhos da Infraero, ela chegou com dois botões de rosas vermelhas, combinando com a cor de seu cabelo. E a cor da sua tez mudou enquanto explicava à amiga que o marido levava flores todas as vezes que ela chegava de viagem. Aos 33 anos de casamento, ainda era uma surpresa vê-lo chegando com as rosas. E ficou vermelha como as flores. Os dois filhos, segundo ela mesma disse em tom vitorioso e orgulhoso, eram tão galantes quanto o pai.
Em Araxá, conheci essa assessora. Os anos de profissão denunciavam a maturidade. Ainda assim, mesmo tendo morado em Paris, Londres, Estados Unidos, como correspondente do Estadão, passado por dois casamentos - e, agora, de namorado novo - não se abateu em três dias integrais de seminário. Em nenhum momento, apesar do cansaço, foi desagradável, rabugenta ou murmurou. Em todos os dias estava sorridente, como lhe é peculiar, preocupada com o bem-estar dos convidados e colegas, interessada nos infindáveis dados apresentados. E ainda teve forças para, ao voltar a São Paulo, ir a Guarapari, debaixo de chuva, para passar o domingo com a mãe.
Num dia complicado de trabalho, abri meu email e lá estava a resposta de um amigo colorado, me contando que tinha decidido assumir publicamente seu namoro e me convidando para ir ao "casamento do meu melhor amigo". A aposta alta no relacionamento superou todas as expectativas e temos uma borboleta (que não sou eu) que ganhou um jardim!
Esperando por um vôo em São Paulo, um americano que está trabalhando no Brasil me mandou uma mensagem de texto. Me disse que infelizmente não poderia se encontrar comigo porque estava "preso" na polícia Federal...não, ele não fez nada de errado! Estava apenas renovando o visto. Lembrou da chuva e do frio que estava em São Paulo e se alegrou porque eu não precisaria sair do aeroporto e enfrentar a "garoa". Me mandou um smile e me desejou "the best flight ever!".
Por telefone, minha amiga querida me ouviu por algum tempo. Riu comigo das dificuldades da viagem - e das que tinham ficado pela cidade também. Compartilhou pensamentos, problemas, preocupações, mas sem perder o bom humor e sem deixar de desejar que eu aproveitasse o tempo não só com trabalho, mas com descanso e silêncio de qualidade. Mesmo com todas minhas argumentações e desculpas, ela não se abateu e mais uma vez se fez presente nos meus dias conturbados.
Lembrando desses fatos, só posso chegar a uma única lição de moral, que me foi ensinada esses dias pelo ex-coordenador dos programas de envelhecimento da Organização Mundial de Saúde, Alexandre Kalache, segundo o qual, "quem é otimista vive melhor e vive por mais tempo". Em pequenos detalhes encontrei pessoas que conseguem sorrir mesmo quando nem tudo vai bem, que SÃO felizes mesmo quando não ESTÃO felizes (já leram isto em algum outro lugar, vizinhos?), que são otimistas quanto ao que ainda está por vir. Encontrei pessoas que me fizeram pensar nas minhas queixas e perceber que há coisas melhores a se fazer do que sofrer o tempo todo. Encontrei pessoas que conseguem superar o mal.
E pensei: por que não eu? Uma vez, minha mais doce amiga me disse algo memorável: "se é para sofrer e para chorar, que seja aos pés do Senhor. Porque só Ele pode entender, consolar e fazer algo a respeito por você". Que a lição sirva para todos nós. E sejamos otimistas para vivermos mais e melhor.