quarta-feira, 19 de maio de 2010

Devaneio

Você apareceu em meus sonhos. Uma única vez. Numa penumbra realista e surreal, me olhou nos olhos e disse palavras que me assustaram ao ponto de me despertarem.
Não o vi mais, desde então, nem em minha mente, nem nos meus dias. No entanto, a proposta ecoou solene em meu consciente e sua vivacidade ainda me assusta: uma mudança de vida que tenho medo de que se torne real.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Queda livre

Postei os dois pés sobre o parapeito, tentando me equilibrar. Braços abertos, coração acelerado e olhos semi-cerrados. era mesmo necessário passar por este treinamento? Parecia que sim. Respirei fundo e olhei para baixo.

90 metros me separavam do chão. Ali, de cima do prédio, contemplei o horizonte. O céu estava acinzentado por causa do tempo seco que já dava seus sinais. Dali, tudo parecia tão pequeno. Os carros, as pessoas e a vida.

Uma brisa leve começou a soprar e senti meu corpo tremer com o toque suave do vento. O medo se apoderou de mim e travei todos os músculos.

De repente, minha própria voz ecoou em meus ouvidos, me fazendo arregalar os olhos. A lembrança de minha palavras, com tanta autoridade, com tanta propriedade me fizeram questionar até que ponto o meu incentivo e afirmação eram reais para mim mesma.

Um milagre viria ao meu socorro? Uma mão poderosa me sustentaria? Bastaria uma palavra dEle para que tudo se fizesse novo? Eu cria que sim. Mas vivia o "sim"? Olhei novamente para baixo. Respirei fundo novamente. Mexi os pés, me preparando melhor. Firmei os braços abertos. Com um pequeno sorriso confirmei minhas crenças: saltei no infinito desconhecido e livre do não-saber do futuro e deixei que Deus fosse minha corda e paraquedas, numa queda livre que correspondia não à expectativa alheia a meu respeito, mas à minha própria fé.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Wonderland

"- Since I got here, everyone tell me who I should be and what I should do...
- But you must do it. If you get away from the path...
- I'll do my path now".

A chave está sobre a mesa. Das várias portas, apenas uma se abriria ao encaixe perfeito da fechadura. Do lado de lá, as escolhas seriam consequência da primeira delas: não desistir de alcançar a chave e ter o tamanho exato para passar pela minúscula porta que levaria ao desconhecido mundo que, até então, era pintado de sonho.

Como Alice, me deparo com as portas em um longo corredor. Minhas chances estão estampadas não em uma abóbada fechada e enclausurada por uma uma única opção de saída, mas desfilam diante de mim como inúmeros invólucros fechados. O primeiro passo faz ranger o chão. E a temperatura oscilante faz a madeira tilintar.

Olho para os lados, para cima e ao redor de mim. Em meio a penumbra vejo meus passos inseguros caminhando dentro de sapatos brancos de verniz. Um ruído qualquer ecoa no salão. Tento conter minha ofegante respiração, que se encontra com seu maior medo: o desconhecido.

De repente, uma voz ressoa familiar... "Aproveitem, estúpidos, enquanto o futuro ainda é maior do que passado".

"- You have lost your muchless"...

É hora de escolher o caminho. Ao invés de deixar que me digam quem devo ser ou o que devo fazer, eu digo: desta vez, eu farei meu próprio caminho. A decisão de continuar, de abrir a porta de conhecer o irreconhecível ou de simplesmente sentar e chorar é minha e de mais ninguém. E o que me difere de Alice? Seja qual escolha fizer, no final, não estarei diante do perigo sozinha.