quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Livro de cabeceira

Se minha vida fosse parar nas págins de um livro, que enredo ela tomaria? Seria descrita com a infâmia da realidade ou seria suavizada com as palavras poéticas e as construções eufêmicas da literatura?
Se eu fosse contada como uma heroína de romance, que lástimas rodeariam meu personagem ambientado num cenário sócio-cultural do século 21? O meu enredo iria se diferir em muito das atuais historinhas "água-com-açúcar" que preenchem as estantes das livrarias? Ou seria eu mais uma jornalista pseudo-feminista, mas que ainda sonha com um príncipe encatado montado num cavalo branco, como todas as demais que encontraram-se nada mais nada menos do que com os sapos da lagoa e que acabaram por perdê-los para chapeuzinhos vermelhos travestidas sob pele de lobo (conseguiram acompanhar o raciocínio)?
Seria uma aventura no meio da selva urbana ou a derrocada de uma viagem para fugir do cotidiano?
Em quantas páginas poderiam caber todos os pensamentos charmosos que eu, a mocinha, desfilaria frente aos meus leitores? Seriam minhas filosofias transformadas em máximas e adotadas como ditos populares? Que influência minhas aventuras teriam na vida dos que as acompanhassem?
Se minha história se tornasse palavras ao invés de imagens, se dependesse somente da imaginação do público para existir, se a descrição causasse sensações diferentes, ela chegaria a um best-seller? Causaria o frisson da massa à procura do próximo exemplar? Se tornaria um filme?
Se a vida adentrasse à fantasia e ficasse registrada pela eternidade com as matizes que a inspiração me permitisse imprimi-la, seria você meu leitor?