sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Contratempo


Coração apertado, mas mente renovada. Os olhos marejados constantemente trazem um brilho ambíguo aos olhos. Não há felicidade ou tristeza. Não espero conserto ou perdão. Não quero nada que venha fora de mim.

O som do silêncio me faz respirar aliviada. Falta muito para ser cumprido, falta nada para ser resolvido. Dormi de olhos abertos, a respiração ofegante e essa dor no peito que não passa. Vi o presente turvo e o futuro sem ser desenhado. Ouvi as vozes do passado sussurrando os lamentos de sempre. Vi suas garras apontada pra mim, como se pudessem me alcançar.

Já virei a esquina, já saí de sua vista. Um horizonte esfumaçado é que se descortina. Passos pra frente, pesados, amarrando os pés na maratona.

Me arrepio com o dia de sol, enquanto as nuvens tomam conta de dentro de mim. Tenho fome, mas não quero comer. Uma ânsia triste se desembrulha na ponta dos dedos, que jorram palavras ao vento, sem sentido, sem conexão, sem radicalismo, sem audácia de ser bom.

Texto de mim. Diagrama do eu. A renovação das lágrimas se refletem no impulso ao viver. E reviver o que se esperava já ser utopia.

domingo, 16 de outubro de 2011

Humano

Hoje estou turbulenta. Sou água em ondas, mar bravio, agitado. Sou cansaço desesperançado, lamúria cujo choro não passa.

Estou afoita, desconexa. Perdida em meio à multidão.
Nao há porto, nem âncora que me livre da arrebentação.

Sou desatino e confusão. Uma profusão de pensamentos, palavras e sentimentos. Sou só, pó e nada. Estou silêncio mortal, amarrando toda a complicação dentro de mim.

"Nao há linguagens, nem há palavras. E deles nao se ouve nenhum som..." Slm. 19

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Gray

Os problemas se levantam e eu me enclausuro. Não sei resolvê-los em voz alta. No silêncio da minha tribulação, minha mente trabalha com pensamentos desconexos, sobrepondo uma falta à outra.


Sem saída, sem resposta, sem sentido ou expectativa. A resposta sussurrada é a única que tenho: não sei.



Não sei o que fazer, para onde ir, que decisão tomar.



Há dias que são assim...cheios de angústia, tremor e temor. Sem fim em si mesmo, sem finais felizes, sem respostas conclusivas. Há dias que sou só eu e eu. E nem assim basta.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Aos agentes da contracultura

Ouvi neste feriado uma máxima que eu mesma já postei aqui: as pessoas se solidarizam com a tristeza, mas a alegria atrai mais a inveja. Doentio e real, a reação generalizada é esta.

No entanto, não quero falar da inveja, do mal, do desejo malévolo de ser melhor do que o outro, de não medir esforços para mostrar seu ego e ainda sorrir como se fosse isto grande vitória. Não. Quero falar de quando nos deparamos com a exceção, com o contrário ao senso comum. Quero falar da amizade desimpedida e da alegria contagiante e sincera.

É tão "normal" encontrarmos as palavras amargas contra nós quando destilamos felicidade, que é até um susto quando em nosso caminho se postam pessoas que te abraçam, se regozijam e pulam junto com você por causa da sua vitória.


A essas pessoas eu chamo de agentes do bem, carregadores de bálsamo e de personagens da contracultura. É você saber que pode contar com eles. As lágrimas que têm nos olhos quando você conta a boa nova é de alegria, de emoção e de admiração. O abraço que te oferecem não é de tapinhas nas costas, mas é afetuoso, caloroso, demorado, acompanhado de gritos, sorrisos e excitação.

Eles não estão na margem de sua vida e aparecem de vez em quando para rir com você. Eles são constantes, intensos, amáveis com os novatos, pessoas reais que fazem a vida ser mais leve. Eles influenciam e logo, até mesmos nós, que antes éramos invejosos, agora temos um sentimento sincero para compartilhar também a alegria, mantendo a fé de que foi Deus quem abençoou.

Ter destes no seu convívio é poder se chamar de bem aventurado. E deter em sua vida uma lista nominal daqueles que podem ser chamados de amigos.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O impostor que vive em mim


Tirando o tom poético, a ilusão da literatura, o que encontro é pura e simplesmente a verdade da minha vida. O medo de desagradar a platéia que me cerca me leva a manter vivo por muito tempo o impostor que vive em mim, conforme bem o descreveu Brennan Manning. E a partir daí, com o impostor reinando, pacifico o que deveria ser extirpado de mim e do meu contexto.

O impostor arranca das minhas mãos o compromisso perene e me faz andar como o bêbado da madrugada. Hoje atuo com seriedade austera, amanhã, me desleixo boemicamente, numa atitude apática e desrespeitosa com quem eu realmente sou e com o que me propus fazer.

A falta de equilíbrio em qualquer coisa que temos e fazemos na vida é pernicioso. Não há solução, futuro ou atuação que seja benéfica neste sentido. Ou agimos como fariseus, com dedos apontados para o mundo, condenando os que não seguem as "regras" de moral e bons costumes em que nos amarramos; ou largamos tudo à mingua, rindo sem sentido, de forma barulhenta do moralismo que nos deixamos ser levados. Em qualquer das duas situações, tornamo-nos escravos, presos a conceitos, a teorias e a fardos que nem mesmo nós podemos suportar.

Uma vida de equilíbrio, sem pender nem para a direita, nem para a esquerda é possível? Nem tanto ao mar, nem tanto à praia. Nem oito, nem oitenta. Nem bêbados, nem carolas. Mas racionalmente emocionais, emocionalmente racionais. Equilibrados, pé ante pé, com passadas firmes, definidas, decididas, humildes, conscientes e destemidas.

Equilíbrio é saber que não somos totalmente maus, e tampouco totalmente bons. É ter ciência de quem somos, quais são nossos talentos, virtudes e preciosidades; mas também não ignorar nossos defeitos, erros e lamúrias. É não se deixar ser levado pelo sentimento de vitimização constante, mas também não ser eternamente culpado.

Manter-se estável é tirar o controle do impostor e deixar que o verdadeiro "eu" ressurja da escuridão, e assuma o que é seu por direito: uma vida honesta, leve e, se possível, equilibrada.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Preparações de um novo destino

Os dias estão se aproximando mais rápido do que eu esperava. Logo, logo já será abril e eu estarei voando para terras distantes e desconhecidas. Eu já tenho o mapa, as indicações de transporte, restaurantes e passeios. Mas ainda não pensei nos estudos, que serão puxados, na casa que irá me receber e nem nas pessoas que vou conhecer.

Há uma certa melancolia nestes preparativos. É quase tolo pensar no que irá acontecer antes de chegar lá. Até aqui tenho pensado por muito tempo na segunda parte da viagem, no Velho Mundo, em sua gastronomia, sua utopia, sua inspiração. E tudo soa deliciosamente encantador. Mas o que fazer com a primeira parte?

Não conheço o Canadá. Nem mesmo uma pontinha. Sei que é bem frio. Não sei como são as pessoas e nem o inglês. Vou estudar a língua por um mês, em ritmo frenético, tirar certificado, reconhecimento e me aprimorar no idioma que escolhi como segunda língua. Meu Moleskine já está comprado há meses, com "Vancouver" estampado na capa e esperando, com suas páginas brancas, por minha caneta mágica, que vai descrever as sensações, as percepções e as observações. Serão feitas em português, aliás. Assim, me volto a minha terra, enquanto vivo no outro hemisfério.

Irei sozinha ao Canadá. Será meu mergulho em mim até que eu me divida com os amigos que penso que farei, com os lugares que visitarei e com a casa que me receberá. Estou desenhando meus passos até lá e antes que os dias passem mais rápido, ainda tenho detalhes para acertar desta aventura....

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Rascunhos de um novo ano

Em meio ao barulho, atendi a porta e já era o ano novo, soltando confetes e serpentinas, anunciando o futuro que batia à porta. Como quem se assusta com o inesperado, bati-lhe a porta na cara! O ano acabara depressa e nem vimos os dias passarem, mas ainda não estava pronta para um novo ano.

Aqui, pensando com meus botões, não sei o que esperar para estes novos dias. Não tenho objetivos certos que me guiem. Não há nada que eu esteja esperando que aconteça. Tenho viagens marcadas para abril, maio e junho. Para lugares desconhecidos e para situações nunca vividas.

Mas não sei exatamente o que estou buscando nesta aventura. Estava pensando que poderia ser um novo rumo na vida. Que seria uma possibilidade de mudança radical. Mas...não. Não é isso que quero para 2011.

Sim, espero mudanças, lugares marcantes, culturas diferentes, aprendizado, conhecimento, sensações....mas....com qual objetivo? O que farei de tudo isso? Como aproveitarei o que vou ganhar nestes meses?

Abri a porta e olhei, ressabiada pela fresta, o ano novo que ainda me aguarda do lado de fora. Ainda não sei como saudá-lo e como me preparar para recebê-lo. Não quero atropelar meu calendário, mas também sei que os dias não vão esperar que eu me decida e que, vagarosamente, tente encontrar sentido para o tudo que me espera.

É viver. Viver da melhor maneira. Traçar os planos possíveis e deixar que os sonhos cheguem em tempo oportuno, junto com a expectativa crescente que os novos dias sempre trazem.