segunda-feira, 30 de junho de 2008

Estigma

Pára tudo, pega o dicionário. "Estigma". Procura aí. Só encontrei um dicionário que, na contra-capa, está escrito "Lenir Borges Camimura, 6˚ vesp, Compacto Guará". Não pode ser muito bom um dicionário cuja última atualização foi nos anos 90. Mas vamos lá. "Estigma". 1. Cicatriz, sinal; 2. Ferrete; 3. bot. Porção terminal do gineceu, que recolhe o pólen e sobre a qual ele germina (Eu sabia que este dicionário não podia ser bom).

Hum, vamos ver aqui...."estigmatizar". 1. marcar com estigma (dãaa); 2. censurar, condenar. Melhorou um pouco. Mas, enfim. Estigma é estar marcado e, depois, ser censurado por isso. E como as pessoas gostam de se lembrar de um mal feito. E como elas adoram condenar quem deles se esquecem.

Sociedade estigmatizada pelo preconceito da falta do perdão: nem para os outros, nem para si mesmo. Uma decisão errada será apontada, para sempre, como "típico de você". Meu (e o seu) passado me condena, já diz uma comunidade do orkut. 

Tem como se livrar de um ferrete? (fui procurar o significado desta também. No meu velho dicionário escolar diz que além de ser aquele ferro que se usa para marcar gado e cavalo, também se trata de um sinal de ignomínia, que, por sua vez, significa uma grande desonra, infâmia)

Fomos marcados pela desonra de sermos quem somos. A infâmia de não agir corretamente. E, ao que indicam os dedos apontados contra nós, em riste, como bichos fomos ferrados, marcados para sempre. Não podemos mudar.

E não há sangue e nem lágrimas que limpem do currículo o estigma de ser EU (e você).

P.S.: é possível perceber um toque de ironia nisso???

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Aventuras e desventuras...

Quem me conhece sabe que gosto de viajar, mas também sabe que eu sempre tenho problemas nas minhas andanças. Não poderia ser diferente desta vez. Depois de uma conturbada comunicação - liga pra um, liga pra outro, espera resposta.... - consegui as passagens para vir ao Congresso da Federação Nacional dos Médicos, para quem trabalho, em Canela (RS).
Eu, feliz e contente de poder viajar para um lugar que nunca tinha ido antes: o sul. Sim, para trabalhar, mas, é assim que consigo conhecer os lugares. Enfim. Em menos de 3 horas, arrumei a mala, mandei matéria, fui ao salão fazer a unha (quase que meu irmão me mata por isso), cheguei correndo no aeroporto em Brasília, a tempo de entrar na fila para o embarque. Ufa.
Mas o que eu não esperava era chegar no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre e não saber como sair. O transporte que tinham me prometido que estaria aqui, não estava. Resultado? Minha divertida noite cibernética no aeroporto, até que amanheça e o transporte para a outra cidade venha. Por R$ 25 estou há 2h navegando, procurando o que fazer, tentando não dormir em cima do teclado do lap.
Não ria! Oras....tá bom, é comédia mesmo. Seria mais engraçado se não fosse comigo e se algo como isso não acontecesse a cada viagem que faço. De qualquer forma, esotu me sentindo como Tom Hanks no adorável filme "O Terminal" (recomendo, com cinco estrelas). Mas, pelo menos, meu cartão de crédito ainda funciona e pelo menos um cappucino eu pude tomar para aquecer.
Ah, é, é claro. Não podia faltar o fator "clima-tempo". O inverno aqui é inverno de verdade. Que frio!!!!!! Não que eu não esteja bem agasalhada, mas parece que nunca é suficiente....
Enquanto eu espero a madrugada acabar, tratem de manter minha história em segredo. Quero minha mãe dormindo despreocupada.
Mas lembram daquela história do gato na reunião de oração? Então, estou me esforçando para não reclamar da situação e tentar entender o que Deus está querendo dizer por meio do gato miando durante o culto....atualizo vocês amanhã.
Beijos.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Renúncia

(Poeminha ensinado pela mamãe, na minha infância)

"Chora de manso
e no íntimo procura
curtir sem queixa
o mal que te crucia.
O mundo é sem piedade
e de ti riria
da tua inconsolável amargura
Só a dor enobrece
e é grande
e é pura.
Aprende a amá-la
e a amarás um dia.
Então será só ela
tua doce e constante companhia"

(Otimista, não????)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Ode aos imigrantes!!!

Hoje (ou será ontem??? Já passa da meia-noite...), dia 18 de junho, comemora-se o Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. Para os que não sabem, carrego no meu nome um resquício do que, um dia, foi uma descendência japonesa. Assino "Camimura", assim, com "c", totalmente abrasileirado, mas que ainda soa como oriental.

Não, meus olhos não são puxados - mas ainda guardam algum traço nipônico, é o que me dizem. Meus cabelos são enrolados e claros. Talvez a minha estatura, apenas, comprove minha relação com o Japão.

Sou bisneta de japonês. Um único nipon que se casou com uma grande portugesa e que, de herança, deixou um nome e uma família muito misturada. Tenho primos com olhos bem puxadinhos, verdes. Tios morenos de olhos puxados com cabelo de africano. Uma verdadeira mistura que caracteriza bem o Brasil.

Alguns desses parentes voltaram à terra dos nossos ancestrais e tentam construir fortunas para, um dia, voltar para o Brasil e desfrutar de alguma coisa. Nunca fomos ligados às nossas tradições antes que eles resolvessem voltar. Não falamos japonês, não nos interessamos por sua cultura nem sua religião e não apreciamos suas comidas. Negamos a raça. Mas usufruimos do exotismo que é ter algum DNA restante de oriental.

Hoje, o princípe-herdeiro do Japão, Naruhito, visitou as autoridades brasileiras, participando das comemorações do centenário. Foi tão estranho estar em meio a tantos japoneses e querer requerer para mim alguma daquela simbologia até bonita. Tirei uma foto do príncipe (baixinho ele) passando no Salão Verde da Câmara. E depois fui embora. Não achei que valia para mim ficar para a solenidade.

Mas pelo menos, levei estampado a cara do cara que comanda o país natal de um parente distante. E isso será o mais próximo que o meu avô, agricultor, de traços japoneses, que se chama Kazuo, vai poder chegar do lugar que já foi lar para os seus e que hoje, volta a abrigar seus filhos.


Olha a cara da japonesa...



E do príncipe.....

Créditos para Akimi Watanabe, uma das japonesas servidora da Câmara dos Deputados, que fez a gentileza de me enviar a foto por e-mail.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Convite à loucura

Estou procurando alguma sanidade. Ela se foi. Derrotismo não é exatamente uma palavra que faz parte do meu vocabulário. Mas ela tem aparecido demais nos últimos tempos. Como onda, ela vem e vai...e estou ficando cansada de nadar contra a maré e não ir pra lugar algum. A mensagem deste final de semana nos exortava à alegria, ao salmos, ao louvor, ao agradecimento. Não posso chegar a este nível sem me resolver primeiro.

Confusão, sabe? Daquelas de pedir socorro em silêncio, de esconder por trás do sorriso, de afundar em atividades que te mantenham ocupada. Se eu joguei a toalha? Ainda não. Mas estou desmoronando. E não é pena de mim. Já vasculhei meus sentimentos e não é por isso que estou chorando. Não me pergunte: eu não sei.

É simplesmente cansaço dos dias. De defender uma causa pela qual não se vive. De hipocrisia incontida e amargurante. De simplesmente não saber explicar quem você é e o que você quer/sonha. De viver na linha entre o santo e o profano e não se entregar de vez a nenhum dos dois. De equilibrar contas, ofertas, poupanças, bens e desejos sem entrar no vermelho. De repetir as palavras toda semana e não dizer nada. De não ver propósito para o que se faz.

Tudo que eu quero é dormir. Dormir, dormir e dormir. E quem sabe, um dia, não acordar. E concluir o que me é mais assustador hoje: tudo não passou de um desperdício de tempo, de dias, de anos, de vida.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Ensaio sobre o fim

Havia um riacho correndo atrás da casa. O riacho crescia até virar um ribeirão, escondido entre a pastagem da fazenda. Me alertaram de que no curso do riacho havia uma sucuri, que deslizava silenciosa na superfície da água, até ficar completamente imóvel e imperceptível às suas presas. A sucuri estava matando o rebanho e a pastagem estava ficando abandonada.
Na casa da fazenda mora um casal de velhinhos que não consegue mais cuidar de tudo sozinho. O engenho parou de funcionar, a cana não é mais moída, o gado está se perdendo e a casa se enchendo de poeira, teias de aranhas - com suas respectivas aranhas -, e outros insetos que fariam qualquer indivíduo da cidade pular e gritar. Mas não eles. Para eles, é normal ter uma sucuri no quintal de casa e insetos como companhia.
Naquela noite, a família que os visitava se reuniu na varanda depois do jantar. Desligaram a luz que estava conectada à bateria do carro - a rede elétrica parara a 250 km da fazenda. Coisas que a politicagem e a época de campanha fazem no interior do Tocantins - e, estupefatos, olharam os milhões de estrelas que apareceram no céu. Constelações, pedaços visíveis da Via Lactea, pontinhos quase apagados no céu escuro. Uma estrela cadente passou e todos sorriram entusiasmados.
Coisa rara de se ver na cidade é um céu estrelado. As luzes criadas pela civilização ofuscam a luz natural do espaço. Ao longe, uma arara voou e, "gritando", fez o cachorro latir, os vaga-lumes sumirem, mas não mudou obrilho que vinha do alto. O silêncio que se seguiu, um incômodo nas grandes cidades, foi apreciado por todos. E a brisa leve soprou com um cheiro de saudade.
Os velhinhos vão mudar para a cidade e vão deixar toda uma vida para trás. Vão em busca de segurança, conforto e cuidado que eles precisam ter no final da vida. Ele põe a mão sobre a porteira e se contém para não chorar - esses dias ele tem estado bem mais emotivo. E, com os olhos lacrimejando, abre seu sorriso e declara esperançoso: "Deus vai ajudar nóis, né?".
A casa já está comprada, a fazenda ainda não foi vendida. Mas até agosto eles mudam, garante ele. Ela olha desconsolada para o quintal por varrer. O porco está solto e briga com o cachorro pelas sobras do almoço. Tem uma sucuri no riacho atrás da casa, me avisaram. Mas nada disso parece importar muito. A falta maior vai ser daquele céu estrelado, com tantos pontos luminosos que na cidade não se vê. E pensar que muitos ali nem existem mais....e o casal sequer vai poder perceber que o brilho das estrelas mudou.