Pseudo-intelectuais abrem a porta, me convidando para entrar. Do lado de dentro, o mundo de cabeça para baixo. Drogas lícitas os distinguem de seus protegidos. Mas o que eles chamam de "trabalho", os detentos chamam de "cotidiano".
Por trás dos sorrisos e dos copos de whisky com gelo e água de côco, mal sabem eles que os prisioneiros são os rostos conhecidos no espelho. A fumaça dos cigarros envolve toda a sala, em completo desrespeito a minha alergia.
Me acomodo no canto solitário, observando e, nitidamente, reprovando o cenário com meu olhar.
Eles riem e apontam e não compreendem meu distanciamento.
E dentro de mim, eu descubro meus dedos apontados contra cada um deles, em julgamento. Me faço juíza do vazio interior a que se submetem. Escarneço e zombo de seus atos frívolos e de sua ansiedade declarada de preencher os minutos da noite com qualquer lixo sociológico que a realidade juvenil lhes oferece.
E olho pra mim, em minha hostilidade e bossalidade, me julgando também: superiora a todos. Maior, melhor. Intitulando o que eles chama de "festa", de "perda de tempo". egocêntrica, não me divido, não compartilho e, se alguma solução guardava para tirá-los da insensatez do desperdício dos dias, guardei em meu bolso.
Bestial. Superficia. Frívola.
A vida minha e deles. Na ânsia pela diversão, tornamo-nos, todos, palhaços de circo.
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