quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Seco

Revirou-se de um lado para o outro até que, por fim, despertou do pesadelo. O sol já ia alto e entrava pela cortina, com força. Ainda tonta e sem firmeza pela noite mal dormida, ela se levantou e caminhou até a janela.
Abriu as duas folhas e tentou respirar fundo. O vento entrou quente e seco. Mais do que o normal. Abriu os olhos, sufocada, e deparou-se com a visão do deserto ressequido. Do lado de fora, a areia tomava conta da paisagem. O sol, a pino, escaldava toda forma de vida.
Uma gota de suor escorreu de sua testa. Limpou-se com as costas da mão, sentindo o cansaço e enfado provocados pelo calor. Muito calor. Extremo calor.
Andou arrastando os pés, ainda vestida no pijama, procurando uma sombra ou uma gota de água para aliviar a garganta ressequida. Perdida, zonza, definhando em meio ao deserto calorento, sem sinal de nada que diferenciasse o horizonte.
Ondas de calor que gotejavam o corpo, fazendo-a desidratar. Tentou chorar, tamanho desespero, mas as lágrimas se secavam antes de chegar aos olhos. Sol causticante, pele se queimando e o silêncio do nada.
Tentou encolher-se, esticar-se, caminhar mais rápido, procurar uma saída...o medo era ter a consciência cauterizada e causticada a tal ponto que deixasse de se importar com o incômodo e fazer do calor parte de sua essência.
O vento soprou mais forte, criando uma rajada de areia, que se levantava formando uma coluna, como uma seta, indicando o caminho. Ela levantou a cabeça e apertou os olhos. Vislumbrou, ao longe uma placa, uma direção. Reuniu suas últimas forças e correu para a bússola natural que em sua frente aparecera.
Em meio à poeira e ao cansaço, leu, estarrecida: bem-vinda à sua alma. Apoiou-se ao sinal e despencou ao chão em profunda dor. Agora era hora de morrer. Nova rajada de vento a fez cobrir os olhos e despertar de volta ao seu quarto, em meio à noite, envolta em suor e desespero. Estava na hora de buscar água...que hidratasse mais do que o corpo, mais do que a mente, mas que restaurasse a essência de quem ela era.
(Recomendo a leitura acompanhada pelo fundo musical Estrada, de Carlinhos Veiga: www.myspace.com/carlinhosveiga)

Um comentário:

zallo_dias disse...

Parabéns pela criatividade. Adorei o texto.