segunda-feira, 14 de maio de 2012

Vento de Saudade


Impetuoso, encheu a casa. Varreu os cômodos e seus incômodos. Tirou a poeira do comodismo, do lugar-comum e renovou a vontade do abraço, do sorriso e da presença.
Veio avassalador e me tirou o sossego. Bagunçou os cabelos, subiu a saia, trouxe arrepios e melancolia. Balançou os bibelôs na estante e corri pra fechar as janelas. De nada adiantou: a saudade veio cavalgando na crista do vento e se instalou no sofá da sala.
Sentiu-se visita e esperou o café. Contou de sua estrada errante, de seus caminhos longíquos e de seus passos em direção a mim. Escolheu a oportunidade certa e já chegou fazendo barulho. Me cobrou a atenção e a consideração de um parente distante. 
Não me deixou dormir com sua voz estridente. Não me deixou comer com suas queixas doloridas. Não me deixou respirar sem sufocar meu peito.
Instalou-se, confortavelmente, sem data para sair. Não pagou o aluguel, nem perguntou se poderia ficar. Simplesmente chegou, abraçada ao vento do momento, com suas roupas de cinza degradê. Se alimentou de meu sofrimento e segue contínua e crescente, até que a porta se abra e o sol penetre com o calor amável daquele que retornou.

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