terça-feira, 27 de março de 2012

Dia a dia

Eu conto os dias pelo meu trabalho. A cada boletim novo que escrevo, lá no topo está a data do dia e assim me oriento no calendário. Saltar um dia ou adiantar uma matéria é desarranjar minha anotação mental da posição em que estamos no mês.

Com felicidade, gravei hoje o arquivo do dia 27. Final de mês, finalmente. Isso significa salário novo saindo, o hoje passando mais rápido, o futuro chegando na velocidade da expectativa. Nem tanto, mas novos dias se aproximam.

O que me leva a pensar: não estou deitada numa cama, ociosamente, esperando o dia passar. Meu calendário continua recheado de atividades, de afazeres que parecem não ter fim. Com as preocupações normais da vida, as pressões normais da agenda, as vontades normais pelas mudanças.

Aproveitar o tempo, remi-lo, como diz a Bíblia, não é encher as horas de lazer somente. Mas é viver na plenitude: fazer o que é preciso, quando for preciso, organizando as pressões, trabalho, lazer, amigos, Saúde e tudo o mais que preenche os dias, de forma a ter a sensação de saciedade ao deitar a cabeça no travesseiro.

Tem dias que isso, simplesmente, não é possível e fico presa a uma única atividade, a um único sentimento, a um único qualquer coisa. Posso dizer que isso é desperdício? Não. Para amadurecer ideias, razões, motivos e circunstâncias também é preciso espaço e, de vez em quando, um pouco mais de dedicação. Mas não podem estagnar a vida.

Por isso, celebro o fim de mais um mês bem vivido, bem preenchido. Talvez não como eu tinha esperado e/ou planejado, mas com a bênção do pouco estresse. Celebro o andar da carruagem, a contagem dos dias que não cessam e a oportunidade de fazê-los melhor e de forma diferente, a cada dia.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Interpretando o EU numa segunda

Você abre a vida numa segunda-feira amarrotada e, de repente, percebe-se perdida de si mesma. Não conhece aquele rosto sorridente e aquela confiança elogiada.

Olha pra si e pergunta onde foram parar seus conceitos, suas defesas, suas crenças. Nada restou de quem um dia foi e que definiu seus passos até o presente?

Questiona o modo de pensar, de aceitar, de andar, de entender e de viver. Questiona as concessões, as palavras, os sentimentos e a razão. Questiona o eu, o ego e o apego. E as perguntas seguem vazias de resposta.

Não se lembra sequer quando foi que deixou de ser quem era para tornar-se o que é. Que mal havia na transformação? Que crescimento trouxe a metamorfose? Limpa o exagero do cenário geral e vê que nem tudo está perdido.

Usa a balança, a peneira e o "desamassador" do bom senso e com um longo e estralante bocejo, espreguiça, ciente de que a vida não é a mesma e que você não é a mesma, mas é preciso se adaptar até que tudo se torne normal durante o dia...

E saia logo dessa cama, que, como disse, hoje é segunda-feira!

terça-feira, 6 de março de 2012

Silêncio


Arde.
Das lembranças surge o passivo de dor não curada. Contabilidade mal feita dos dias e das expectativas. Um vislumbre da possibilidade, do projeto, do sonho e do arquétipo jogados pela janela indiscreta do sem querer.

Palavras tortas com tom dissonante, disfarçados na atenção gerada pela culpa dos verbetes rolados pela língua abaixo, sem o bloqueio ou trava do pensamento.

Quando viu, já foi. O som já saiu. As cordas vocais já tremeram. As ondas sonoras já caminharam no espaço e atingiram os ouvidos, os tímpanos e o coração.

O receptor cai morto, atingido pelo significado e significante da mensagem que, de repente, destruiu seu fôlego de vida.

Uma ansiedade a menos. Uma taquicardia a mais. Mais uma vírgula arrancada do discurso do possível. Mais um dejeto no muro das lamentações internas.

E pronto. Ferida que arde, corroi, expõe e questiona a certeza que agora é firme como gelatina.