quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Novíssimo Tempo


Li a carta do passado mais uma vez. Palavras doces, de um consolo não solicitado, de uma verdade mentirosa, de uma expectativa sempre frustrada. O gosto amargo das lembranças foi seguido por um sorriso falso de melancolia ultrapassada. Nem mesmo a poesia literária de suas palavras foram absorvidas. Nem mesmo o ritmo da rima, os floreios das construções e as palavras que, um dia, trouxeram lágrimas aos olhos, foram suficientes para me fazer crer.

O passado passou. E com ele, seu engodo. Os tapinhas nas costas, que sugeriam um conforto e "mão amiga" ficaram no papel.

Ouça meu grito! Fique sabendo, senhor passado, que as cores do dia me são claras, que meu sorriso é autêntico, que há verdade nos meus passos, que há alegria contagiante na minha história! Saiba que as pedras que me lançou só serviram para que eu construísse pontes e não muros; só me ajudaram a ver os verdadeiros amigos e não mais me importar com quem não se importava; só me fizeram erguer um altar de adoração genuína em favor da graça vinda dos céus. Saiba o senhor que tenho esperança renovada, lágrimas, sim, mas de gratidão.

Que o caminho que trilhei negaram suas propostas vãs de encorajamento deturpado, na qual a mentira baseava seu alento. Escute, passado, que estão derrubadas suas tentativas de me fazer voltar à dor! Fui liberta, restaurada, amparada pelo verdadeiro Amor!

O que eu conto são boas novas de Vida e vida abundante. Meu coração não mais está preso ao meu querer. Meus sonhos não estão entrelaçados ao fracasso, mas seguem triunfantes à vitória!

Há, ao meu redor, um braço amigo - muitos, até, eu diria. Gente que caminha comigo, que sorri comigo, que chora comigo, que ora comigo.

Saiba, enfim, passado, que suas letras são mortas e suas garras não mais me alcançam: meu coração está protegido pelo escudo da salvação!

Com um gesto simples, destruo aqui o que restou da memória da solidão: rasgo a carta em mil pedaços e deixo que o vento se encarregue de levar pra longe o mal do escarnecimento. Daqui pra frente, não mais passado. Os dias de hoje são novos e bons. E no Senhor do Tempo resguardo meu futuro.

2 comentários:

Carla Christina disse...

Amém, amé, e amém!
Que lindas as palavras, Lê.
Bom, tem toda a lógica você ter lembrado de mim. Talvez seja porque, ao dar aquele passo no altar, dizendo sim ao Rei, a carta do meu passado tenha, sim, sido rasgada.
Mas, o mais tocante, foi ler que as pedras jogadas no caminho devem construir pontes, não muros.
Que, naquele dia, meu SIM tenha representado isso.
As mudanças já ocorrem a cada minuto. Minha família anda mudando. Fui recepcionada como uma genuína filha de Deus!!! Agora, não mais criatura, mas FILHA!
E dou glórias ao Senhor por colocar em minha vida pessoas como você e todas aquelas pessoas que muito me fizeram pensar, falar, agir!
Que a carta do nosso passado realmente voe para um tempo que não mais virá...

Rê Cabral disse...

Lê, li ontem seu texto e tava tão corrida q fui atropelada e não consegui vir aqui comentar. O passado, como sempre, nos assombra. E vc fez muito bem com ele: mostrou q não tem medo de bicho papão. Quem segue olhando em frente, não se prende com papinho daquilo q foi. Lindo o texto (mas vindo de vc é sempre redundante dizer isso!).