Aplausos.
Contei minhas aventuras, escondendo os detalhes que poderiam ser julgados e criticados. Escondi minhas fraquezas e desastres debaixo do tapete do meu silêncio. Pincelei com cores coloridas o que, na minha solidão, se tornava meu fantasma descorado. Aprumei as costas, me firmei sobre o salto, andei segura, sem desviar o olhar.
Convenci a platéia de meu sucesso, tingi meus sonhos de amarelo e segui caminhando, como se a verdade pudesse ser mudada. Engoli o choro, enegreci a alma, endureci o coração. Disse não ao que soava humilde e me voltei para o sorriso fulgaz e enebriante.
Ganhei aplausos, tapinhas nas costas.
Conquistei o mundo.
Vendi a vida.
Desamparada de reconhecimento, com a maquiagem borrada pelo suor e pelo choro, desatei os nós do meu cabelo e deixei-me ser conhecida por mim mesma. Desvendei meus mistérios e conheci minhas correntes. Deparei-me com o fundo do poço que, a cada visita, se tornava mais fundo, mais vazio, mais ruidoso.
Olhei pra cima e avistei as nuvens. O sol brilhava por detrás da chuva. Uma esperança de que o frio da minha alma pudesse ser aquecido. Levantei, imunda, enlameada, medíocre, abandonada e deixei que a água que vinha do céu me lavasse, levando embora minha podridão, meu sarcasmo, minha hipocrisia.
Sorri leve e aliviada, ouvindo o aplauso do Céu....Ah, Pai....