segunda-feira, 8 de março de 2010

Amarrando as pontas da vida



Desde criança, minha mãe sempre nos ensinou a "amarrar as pontas" do nosso serviço. Isso significava que, ao terminar de lavar o banheiro, por exemplo, o sabão, balde, bucha e tudo o mais que tivéssemos usado na tarefa, deveriam voltar para o lugar que pertencia, isto é, a área de serviço. Todas as vezes que deixávamos os utensílios esparramados, lá vinha minha mãe gritando: "menino! Vem amarrar as pontas do seu serviço!"


Esses dias, essa expressão não sai da minha cabeça. Estou decidida a amarrar as pontas da vida. Tem trabalhos em suspenso, tem ideias não concluídas, tem relacionamentos embaçados, tem vontades não cumpridas. E está na hora de pôr as coisas no lugar.


Não só porque nunca se sabe quando a vida dará uma guinada de 180º, mas também para dar espaço para que novas oportunidades cheguem. Sem ter as barreiras do inacabado me cercando, posso ter a flexibilidade e a mobilidade do talvez e do pode ser. E eu gosto dessas cartas.

Estou amarrando as pontas da minha vida pra poder caminhar pra frente em passos mais largos. Encontrar respostas e decidir o que, afinal, quero fazer daqui pra frente. Saber qual é o próximo passo é sempre um mistério. Mas, se eu canto "o vento sopra, só ele sabe para aonde vai. Quero estar no vento e ser conduzido pela Sua vontade", não posso estar presa a detalhes de uma limpeza concluída, mas não reorganizada.


Estou sonhando com uma nova caderneta, com folhas limpas, páginas em branco, tela escovada, um recomeço. Estou sonhando com uma nova década que se aproxima, com as realizações prometidas, com os desafios que se descortinam e com as possibilidades de ser. E para isto, neste exato momento, estou amarrando as pontas da vida.

E se entre os baldes, escovas, sabões e buchas que detenho ao meu redor, você tem parte, te estendo a mão e convido a me ajudar a limpar meu ambiente que, na sequência, te ajudo a limpar o seu. E vamos abrir as portas de uma vida organizada a um futuro incerto, mas que será precioso.

terça-feira, 2 de março de 2010

No topo da montanha

Acelerado, o coração pulsou. Era mais um dia ensolarado, de um calor seco que nem mesmo a brisa mais cândida conseguiria aplacar. Ainda assim, as mãos suavam frias e nas pontas dos dedos ainda se sentir o vibrar emocionado das lágrimas recolhidas.

Num dia nublado, como em um céu paulista, a alma amanheceu dormente. Apática a qualquer sentimento ou situação. Deu de ombros aos sonhos difícies e longíquos e estagnou-se à ideia de que tanto fazia estar ali ou não.

Os olhos marejados se fecharam, amargurados, em um dia de chuva forte. Os relâmpagos brilhavam lá fora, sob o rugido dos trovões. Choravam o moribundo coração que não se reconhecia mais, envolto em apatia e frieza.

Como um calor sufocante, o sorriso apareceu. Nasceu assim, de uma ideia inesperada. De uma possibilidade desejada. De uma figura imaginada, mas que nunca apresentou o frescor da realidade estampada.
Nasceu assim, da vontade de liberdade e da conquista do almejado segredo: superar a sobrevivência e, em plenitude, viver novamente.