Li a carta do passado mais uma vez. Palavras doces, de um consolo não solicitado, de uma verdade mentirosa, de uma expectativa sempre frustrada. O gosto amargo das lembranças foi seguido por um sorriso falso de melancolia ultrapassada. Nem mesmo a poesia literária de suas palavras foram absorvidas. Nem mesmo o ritmo da rima, os floreios das construções e as palavras que, um dia, trouxeram lágrimas aos olhos, foram suficientes para me fazer crer.
O passado passou. E com ele, seu engodo. Os tapinhas nas costas, que sugeriam um conforto e "mão amiga" ficaram no papel.
Ouça meu grito! Fique sabendo, senhor passado, que as cores do dia me são claras, que meu sorriso é autêntico, que há verdade nos meus passos, que há alegria contagiante na minha história! Saiba que as pedras que me lançou só serviram para que eu construísse pontes e não muros; só me ajudaram a ver os verdadeiros amigos e não mais me importar com quem não se importava; só me fizeram erguer um altar de adoração genuína em favor da graça vinda dos céus. Saiba o senhor que tenho esperança renovada, lágrimas, sim, mas de gratidão.
Que o caminho que trilhei negaram suas propostas vãs de encorajamento deturpado, na qual a mentira baseava seu alento. Escute, passado, que estão derrubadas suas tentativas de me fazer voltar à dor! Fui liberta, restaurada, amparada pelo verdadeiro Amor!
O que eu conto são boas novas de Vida e vida abundante. Meu coração não mais está preso ao meu querer. Meus sonhos não estão entrelaçados ao fracasso, mas seguem triunfantes à vitória!
Há, ao meu redor, um braço amigo - muitos, até, eu diria. Gente que caminha comigo, que sorri comigo, que chora comigo, que ora comigo.
Saiba, enfim, passado, que suas letras são mortas e suas garras não mais me alcançam: meu coração está protegido pelo escudo da salvação!
Com um gesto simples, destruo aqui o que restou da memória da solidão: rasgo a carta em mil pedaços e deixo que o vento se encarregue de levar pra longe o mal do escarnecimento. Daqui pra frente, não mais passado. Os dias de hoje são novos e bons. E no Senhor do Tempo resguardo meu futuro.