Aconteceu assim: durante uma viagem, nos conhecemos e nos tornamos amigos.
Conversamos sobre todas as coisas. Sobre intimidade e superficialidade. Trocamos músicas e interpretações. O mundo estava envolvido em barulho, mas ao nosso redor havia paz. Os detalhes do nosso modo de agir se completavam. Nossa forma de pensar não era semelhante, mas também não era rivalizada. Encontramos um ponto neutro no universo que se resumia às nossas conversas. Ele era meu yin e eu seu yang. Cósmico ou não, era uma amizade perfeita, daquelas que duram para sempre. Eu entendia suas notas, ele traduzia os meus borrões. E me surpreendia a cada expectativa concretizada.
A fragilidade que ninguém notou foi abordada em seus elogios. Um dia, simplesmente me disse para acreditar em mim mesma, quis me convencer que eu também gozava de beleza exterior e tentou acalmar meus medos me garantindo que não era preciso um plano para se chegar a um objetivo.
Ainda hoje, quando me lembro daqueles dias, consigo sorrir ao relembrar as frases que trocamos. Ele tentou explicar o significado do encontro, o motivo pelo qual aquela amizade se tornara tão especial. Tentou escrever, mas descobriu que uma série de palavras rimadas não podem expressar a profundidade da poesia da vida. Então me fez uma canção. E a música penetrou a minha alma e decifrou meus pensamentos.
Ele era só um menino, mas tinha a maturidade de um homem. Entendeu meus conflitos porque eram os mesmos que os seus. Naqueles dias, cheguei a acreditar que havia no mundo uma alma gêmea e choramos a despedida. Hoje, olho para trás e ainda consigo ouvir sua voz grave tentando me convencer que a vida não era feita só de preocupações. Ele não era um terapueta, mas um amigo e tudo se fez mais nítido quando percebi que tudo apenas fez parte de se ter 20 e poucos anos.
(Baseado no filme "Eu e as Mulheres" - In the Land of Women)