terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Alma livre

Abri uma das redes sociais e vi a foto de uma amiga, absolutamente sorridente, vestida num vestido de noiva. Me lembrei de quando conheci essa amiga. Amargurada, ranzinza, presa a um passado que não voltaria.

Sem conseguir se livrar de um ex-namorado, ela vivia presa à ideia de que, algum dia, ele poderia voltar e viver os sonhos que ela tinha.....ainda que sozinha. Infelizmente, por anos ela fixou seus passos naquele relacionamento frustrado e deixou que a angústia controlasse sua vida e sua personalidade.
Até que resolveu dar um basta - ou deram por ela. Seguiu em frente, jogou fora o que a prendia ao camarada. Viajou, tirou férias, reviu amigos, lugares, lembranças...e a decisão de se amar fez muito bem a ela.

A última vez que nos vimos ela já tinha mudado. Não tinha mais um sorriso amarelo e uma cara pálida. Mas era só alegria, cores e vida! Pouco depois ouvi dizer que estava namorando e, agora, a vejo casada.

Mais do que conquistar tudo o que sonhou, minha amiga conquistou o direito à liberdade de seu coração. Ao voltar para si mesma e abandonar os caprichos daquele relacionamento tóxico, ela quebrou suas amarras e se permitiu dar passos para frente, para o futuro. E hoje, estampado no seu rosto, eu vejo a felicidade! Que ela alcançou sozinha e que completou no dia que encontrou outra alma livre como a sua.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Tip Toes

Estou andando na ponta dos pés. Não para não acordar o sossego, mas para tentar alcançar as nuvens. Os sonhos estão voltando gradativamente, junto com as expectativas e os sorrisos.

O futuro me parece mais incerto do que nunca, mas, o que esperar quando não se faz planos para o horizonte, mas, sim, para a próxima esquina?

Estou aconchegada na ideia de que a felicidade já me alcançou e que viver é uma tarefa deliciosa! A cada dia, um aperto de mão, um beijo e um abraço são a resposta que preciso para que o dia mais escuro se torne em luz da alvorada.

Estou andando na ponta dos pés, saltitante e livre, como em propaganda de perfume francês, com flores e vestidos esvoaçantes.

Estou na ponta dos pés para não perder o contato com a realidade, mas também sentir que basta levantar os braços para alçar vôo e ser levada pelas surpresas que o meu Deus preparou pra mim!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Habitação


Casa. Asilo inviolável, protegido e definido constitucionalmente. Olho para minha casa e não a reconheço. Aquelas janelas mudaram de cor com o tempo. A porta de entrada parece menor a cada noite em que preciso atravessá-la. Esses azulejos não estavam aqui na tarde em que me mudei.

Os trincados e rachaduras da parede não demonstram abandono. Pelo contrário, eles registram os anos de convivência, de uso, de entra e sai da família, dos amigos, da vida.

Encaro o jardim. Ele está mais verde este ano. A varanda parece mais aconcehgante. Até o novo passeio é mais convidativo. As portas estão escancaradas, prontas a receber as visitas, mas a casa está silenciosa.

Só há ao seu redor e em seu interior o doce sussurro do silêncio, da paz que veio para ficar. Do desenrolar dos dias e do calendário a casa está marcada. Aqui do portão, ela parece sorrir. Palco de tantas novidades, ela também se prepara para as mudanças.

É um móvel novo que acabou de chegar, é um habitante a menos em suas alcovas. E a casa permanece ali, pronta para as chuvas e para o sol. Abrigo inviolável, sem ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador....ela mesma me faz o convite. E nela eu me encontro como a principal visita.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Contra a parede


Em poucos dias enfrentei uma série de altos e baixos emocionais. Série de enfrentamentos virtuais, pessoais e reais. Como uma campanha política, tive amigos assumindo lados a favor e contra, tomando partidos, defendendo seus times e conceitos.

Um monte de gente se metendo, dando opinião, mexendo com nosso humor, criticando, querendo rotular se estávamos certos ou errados.

Em nenhum momento, no entanto, ninguém* perguntou como nos sentimos, como NÓS estávamos encarando nosso "problema", como víamos toda a situação. Nos espremeram contra a parede, tentando nos convencer, como em boca de urna, do que deveríamos fazer.

Nenhum deles olhou para nós e se calou. Nenhum observou nosso sorriso, nosso olhar brilhando, nossas mãos preenchidas pela mão do outro, nossos desejos e nossos próprios medos. Ninguém se importou com o que NÓS estávamos pensando, sentindo e vivendo.

O que pensam? Que não sabemos dos riscos, do fora do comum, das dificuldades? Não precisamos dos dedos apontados contra nós, mas precisamos de braços estendidos, prontos para um abraço acolhedor, que nos garanta que a amizade está acima do preconceito, das opiniões pessoais, voltadas para nós e nossas próprias fraquezas.

Precisamos de nossos amigos como amigos, não como nossos julgadores. Se vai dar certo, é uma especulação que não nos permitimos responder. O mais provável é que não. Mas, enquanto durar, queremos o respeito alheio, o suporte daqueles que nos chamam de irmãos, que nos querem bem.

As autoridades sobre nós - pais e pastores - apontaram todos os perigos desta trajetória. Mas nos abençoaram, oraram e apoiaram. Mas dos nossos amigos, que andam conosco, esperávamos um pouco mais de positivismo e um pouco menos de cimento e massa corrida nas mãos que nos afagam.

(*salvo exceções)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Comigo só.

Eu descobri que gosto de ser sozinha. Não de estar. Mas de ser.

Não sou uma filósofa da vida. Não sei traçar teorias mirabolantes sobre o cotidiano. Não chego perto das percepções de Carpinejar*. Não defino gostos fixos e vontades estáticas.

Descobri, esses dias, que tenho, sim, um local preferido para comer, mas que não me impede de diversificar. Não sou uma xiita da rotina e dos meus desejos.

Gosto de andar sozinha pelas ruas, observar os transeuntes e rir com eles de seus tropeços. Ir ao cinema é uma terapia que faço só, num relacionamento que se resume entre minha poltrona e o personagem na grande tela. Escrever aleatoriamente me ajuda a organizar meus pensamentos e desvendar minha alma. Andar por uma livraria me faz sonhar com uma vida que não tive, mas que almejo.

Estou sozinha por alguns anos. E isto me ajudou a me descobrir, a criar manias só minhas, a peneirar meus cortejos pessoais, a me aceitar, a corrigir chatices que nem eu suportava. Estar sozinha me ensinou a SER sozinha. A apreciar a minha companhia. A desejar um tempo só comigo.
Me lembro da insistência da Marcia para que eu viajasse sozinha, para um local em que eu pudesse me concentrar em mim e minha resistência em fazê-lo. Em perscrutar minhas emoções, sentimentos, pensamentos e esta leitura de mim, que era tão dolorosa. Um agradecimento a ela, pelo empurrãozinho sábio que me deu, ao me incutir a ideia de me conhecer.

Hoje, estou feliz. Realizada com quem me tornei, com quem sei que sou, com o futuro próximo que decidi pra mim. Assim, sozinha.

Hoje eu até posso dizer que estou melhor preparada para deixar a solitude e me permitir pensar em passar a ser mais do que só uma no meu castelo.
(*Fabrício Carpinejar é um poeta e cronista brasileiro)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Bambam

A vida pulsando em meio às horas, aos dias, aos fatos. A vida crescendo dentro do invólucro quente e aconcehgante que a envolve. A vida que muda outras vidas, que transforma expectativas, esperanças e sonhos. A vida que se manteve firme e perdurou com qualidade e perfeição.

A vida na batida do coração.

Uma nova vida. Assim, de atropelos, sem muito planejamento, sem muito apego. A vida em uma notícia inesperada, misturada à dor, à alegria, ao amor e ao desalento. A vida de todos os momentos.

A vida que traz sono, para aproveitar as noites que serão mal dormidas; que traz fome, para aliviar os dias em que o tempo não permitirá a saciedade; que traz sorriso, para os anos de lamento e preocupação.

Vida. Vida que está trazendo consigo sorrisos, carinhos, lágrimas de contentamento. Vida que significa herança, pedaço de nós, parte de nós. Vida que já provoca mudança nas vidas de quem nem conhece, que já causa estranheza aos mais apegados, que força a tomada de decisões a tanto esperadas.

Vida que vai preencher nossos dias e que vamos amar incondicionalmente. Que nos transformará em bobos e babões, em pais, avós e tias! A vida do pequenino que lá dentro nem pode imaginar o quanto já estamos ansiosos para vê-lo aqui fora, cheio de vida!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Chuva


Aplausos.
Contei minhas aventuras, escondendo os detalhes que poderiam ser julgados e criticados. Escondi minhas fraquezas e desastres debaixo do tapete do meu silêncio. Pincelei com cores coloridas o que, na minha solidão, se tornava meu fantasma descorado. Aprumei as costas, me firmei sobre o salto, andei segura, sem desviar o olhar.

Convenci a platéia de meu sucesso, tingi meus sonhos de amarelo e segui caminhando, como se a verdade pudesse ser mudada. Engoli o choro, enegreci a alma, endureci o coração. Disse não ao que soava humilde e me voltei para o sorriso fulgaz e enebriante.

Ganhei aplausos, tapinhas nas costas.
Conquistei o mundo.
Vendi a vida.

Desamparada de reconhecimento, com a maquiagem borrada pelo suor e pelo choro, desatei os nós do meu cabelo e deixei-me ser conhecida por mim mesma. Desvendei meus mistérios e conheci minhas correntes. Deparei-me com o fundo do poço que, a cada visita, se tornava mais fundo, mais vazio, mais ruidoso.

Olhei pra cima e avistei as nuvens. O sol brilhava por detrás da chuva. Uma esperança de que o frio da minha alma pudesse ser aquecido. Levantei, imunda, enlameada, medíocre, abandonada e deixei que a água que vinha do céu me lavasse, levando embora minha podridão, meu sarcasmo, minha hipocrisia.

Sorri leve e aliviada, ouvindo o aplauso do Céu....Ah, Pai....


terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ventos de mudança - a nebulosa

Passou. Como um pequeno tornado, tirando todas as coisas do lugar, ela passou. Mudou a forma de olhar a paisagem, de sorrir para o nada, de vestir para o cotidiano, de esperar pela hora do adeus.
Passou e levou consigo pouca coisa de mim. Mas para trás deixou a impressão de aventura, com sabor de coisa boa, com perfume de novidade.
Rodopiou no ar a poeira da vida, bagunçou cabelos e foi-se embora para outras paragens. Deixou-me de presente as lembranças, as brincadeiras de criança e a sensação de que é preciso movimento contínuo para que a rotina não se torne uma hospedeira.
Sorriu no espaço e me mandou um beijo, uma piscadela e um desejo: mais uma mudança metamórfica. Mais uma cor resgatada às minhas asas de borboleta....

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Seco

Revirou-se de um lado para o outro até que, por fim, despertou do pesadelo. O sol já ia alto e entrava pela cortina, com força. Ainda tonta e sem firmeza pela noite mal dormida, ela se levantou e caminhou até a janela.
Abriu as duas folhas e tentou respirar fundo. O vento entrou quente e seco. Mais do que o normal. Abriu os olhos, sufocada, e deparou-se com a visão do deserto ressequido. Do lado de fora, a areia tomava conta da paisagem. O sol, a pino, escaldava toda forma de vida.
Uma gota de suor escorreu de sua testa. Limpou-se com as costas da mão, sentindo o cansaço e enfado provocados pelo calor. Muito calor. Extremo calor.
Andou arrastando os pés, ainda vestida no pijama, procurando uma sombra ou uma gota de água para aliviar a garganta ressequida. Perdida, zonza, definhando em meio ao deserto calorento, sem sinal de nada que diferenciasse o horizonte.
Ondas de calor que gotejavam o corpo, fazendo-a desidratar. Tentou chorar, tamanho desespero, mas as lágrimas se secavam antes de chegar aos olhos. Sol causticante, pele se queimando e o silêncio do nada.
Tentou encolher-se, esticar-se, caminhar mais rápido, procurar uma saída...o medo era ter a consciência cauterizada e causticada a tal ponto que deixasse de se importar com o incômodo e fazer do calor parte de sua essência.
O vento soprou mais forte, criando uma rajada de areia, que se levantava formando uma coluna, como uma seta, indicando o caminho. Ela levantou a cabeça e apertou os olhos. Vislumbrou, ao longe uma placa, uma direção. Reuniu suas últimas forças e correu para a bússola natural que em sua frente aparecera.
Em meio à poeira e ao cansaço, leu, estarrecida: bem-vinda à sua alma. Apoiou-se ao sinal e despencou ao chão em profunda dor. Agora era hora de morrer. Nova rajada de vento a fez cobrir os olhos e despertar de volta ao seu quarto, em meio à noite, envolta em suor e desespero. Estava na hora de buscar água...que hidratasse mais do que o corpo, mais do que a mente, mas que restaurasse a essência de quem ela era.
(Recomendo a leitura acompanhada pelo fundo musical Estrada, de Carlinhos Veiga: www.myspace.com/carlinhosveiga)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Losing grips

Perdi o controle quase total da minha vida. Num mar de confusões, de indecisões, eu soltei meus dedos um a um e quase estou pendurada por um último pedaço de unha.
Não sei se o que há abaixo dos meus pés é um abismo ou o paraíso, mas estou a ponto de me deixar levar pela inércia e ver onde esta estrada vai dar.
Eu não tenho planos, metas e objetivos. Não vivo sob minhas imposições de resultados. Não tenho traçado no mapa o roteiro dos meus passos. Não me canso pensando nas possibilidades que a vida poderia me oferecer.
Estou na ladeira, em ponto morto. Soltei os freios e fechei os olhos. Não tenho horizonte e nem procuro pela luz no fim do túnel. Deixei que a apatia se tornasse o indutor dos meus dias. E não me importo.
Estou descansando. Estou flutuando no profundo do não-saber. Estou esperando pra ver onde o tempo vai me levar.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Dia de viver


A cama pareceu expulsá-la quando a manhã se fez presente. Abriu os olhos como num susto e pulou de encontro ao guarda-roupas. Muito a fazer naquele dia que mal havia começado, mas cuja agenda já martelava em seu senso de responsabilidade.
Tomou um banho, lavou o cabelo, passou uma loção pelo corpo e tomou um copo d'água. Vestiu a primeira roupa e sentiu-se bem. Olhou no espelho, enquanto aprontava a maquiagem e sorriu ao ver a tranquilidade estampada naquela manhã de quarta-feira.
Simples assim e sem motivo, uma brisa de ansiedade saudável atravessou-lhe o coração e criou uma taquicardia gostosa, de quem aguarda a melhor das notícias.
Nem mesmo o engarrafamento costumeiro - e especialmente neste dia mais complicado - lhe tiraram a sensação de leveza. lavou os olhos da tristeza derradeira e abriu os lábios para uma alegria momentânea que não tinha jeito de passageira.
De igual modo trabalhou com afinco, mas prestou atenção aos detalhes nas pessoas, ao semblante dos amigos, às preocupações alheias. Tudo como resultado da taquicardia apaixonante que a fazia corar com a empatia.
Estava feliz consigo mesma. Feliz com as decisões que tomara, com a vida que levava, com os planos que traçou. Tinha nos olhos o brilho da expectativa de futuro e sorriu todas as vezes que o celular brilhou ao receber novas mensagens de texto.
Era um dia de sorrisos. De lembranças agradáveis. De suspiros e arrepios. Era dia de viver!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Porto só

Com a tristeza estampada no rosto, ela se vestiu para mais um dia de trabalho. olhou ao redor com desolação. A cama por fazer indicava uma noite mal dormida, agitada pelas preocupações que invadiam seu coração e mente.
Escolheu uma roupa mais conservadora, abotoando a camisa até a gola, como que para prender o coração e não deixá-lo saltar pela boca. Olhou-se no espelho, cansada. O empapuçado sob seus olhos denunciavam uma crise de choro recente.
Mas respirou fundo, contou as casas e os botões e, calçando uma sapatilha confortável, dirigiu-se à vida. Subiu a rua sem pressa e com a firmeza de quem cambaleia. Apertou os olhos, tampou-se do sol e respirou mais fundo.
Com a dor incômoda da alma, chegou ao destino, imaginando o que fazer para disfarçar tamanho peso. Clareou o sorriso e conseguiu fingir tranquilidade. Trabalhou com afinco, sem deixar o pensamento divagar pelas terras insólitas da ansiedade. Esqueceu de comer, de conversar, de rir. Esqueceu, inclusive, dos amigos que lhe convidaram para um happy hour. Esqueceu de si mesma e, por um dia, não desviou o olhar para a janela, para a porta e para o dia.
Deu a hora, desligou tudo e voltou pra casa e para seu vazio. Sentiu-se só, como há tempos não sentia. Uma lágrima brilhou no canto do olhar e ela fungou. Abriu o celular e deparou-se com a foto que evitou por todo o dia: fora vítima da saudade. Da saudade e da alegria perdida.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Simples.


Para se ter felicidade não é preciso procurar em muitas coisas ou lugares, brada um anúncio na TV. Só é preciso uma só. A palavra de ordem é: simplifique. Reúna todas as contas numa só, use só uma máquina para ler todos os cartões, tenha um controle remoto universal....simplifique a bagunça sobre a sua mesa, na sua casa, na sua vida.

Manter a vida simples, sem perder o conforto, o luxo e o status. Manter a vida simples e ponto.

O conceito do ter sobre o ser começa a se tornar obsoleto. Ou será que apenas reduziu-se as varáveis de complicações? "Continue tendo muito. Mas economize tempo, encontre tudo o que vc precisa em um só lugar"...

Mas a simplicidade pregada pelos vendedores não extingue a "necessidade" e menos ainda diminui o estresse. O "mal do século" não é mais a depressão - ela o foi no século 20 -, mas é a tensão, a ansiedade em níveis acima do normal, a pressão pelo ter, ser e fazer, todos ao mesmo tempo, em um único lugar: sobre seus ombros.

Como Atlas, o deus grego, temos por castigo carregar o mundo nas costas. Sem descanso, nos forçamos a nos preocupar, estressar e acrescentar, a cada dia, mais peso a nossa bagagem cotidiana.

Ainda aprendo, mas em Deus encontro a resposta para o dilema: "lancem sobre Ele toda Sua ansiedade, por Ele tem cuidado de vocês" I Pedro 5:7. Parece subjetivo e transcendente, mas é real. Confiar em Deus é a resposta para nosso mal.
Ele vai suprir nossas necessidades. Ele vai resolver os problemas. É jogar sobre ele o fardo. É não se preocupar. Ele tem cuidado de nós. E não há porque temer: Ele consegue lidar com todos os detalhes de todas as vidas.
É pensar na suficiência de Deus, mesmo quando fazemos dela insuficiência.
É simplificar a vida. Confiar e ponto.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Liberdade


"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."


Então começou a Copa do Mundo. Para todos os lados, vozes e vuvuzelas ecoam o mesmo som: buscamos a glória, o nosso nome escrito na história.

Estão todos em busca da mesma coisa, que é a vitória sobre o outro. De alguma forma pretendem comprovar sua superioridade, ainda que seja somente em torno de um jogo, uma competição, na qual um monte de homens corre atrás de uma bola.

E enquanto isso, ouço na televisão as repórteres comentando a abertura dos jogos e os primeiros minutos da primeira partida na África do Sul.

O comentário me emociona: uma moça sulafricana diz que ter a Copa em seu país é como se fosse um milagre: "Meu pai lutou para que fôssemos livres e hoje nós podemos viver este momento".

Engasgo.

Não sabemos o quanto custa sermos livres. Fazemos pouco caso do nosso privilégio de viver em um país que nos permite ir e vir, escolher nossos representantes políticos, dizer sim ou não, assistir este ou aquele programa de televisão, aceitar ou não uma proposta de emprego...Vivemos uma liberdade que se confunde com libertinagem, esquecendo que para ser livre é preciso ter responsabilidade.

E a África celebra hoje, acima de tudo, não apenas o espetáculo do futebol mundial, mas a oportunidade de mostrar ao mundo o que fizeram com esta tal liberdade.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Devaneio

Você apareceu em meus sonhos. Uma única vez. Numa penumbra realista e surreal, me olhou nos olhos e disse palavras que me assustaram ao ponto de me despertarem.
Não o vi mais, desde então, nem em minha mente, nem nos meus dias. No entanto, a proposta ecoou solene em meu consciente e sua vivacidade ainda me assusta: uma mudança de vida que tenho medo de que se torne real.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Queda livre

Postei os dois pés sobre o parapeito, tentando me equilibrar. Braços abertos, coração acelerado e olhos semi-cerrados. era mesmo necessário passar por este treinamento? Parecia que sim. Respirei fundo e olhei para baixo.

90 metros me separavam do chão. Ali, de cima do prédio, contemplei o horizonte. O céu estava acinzentado por causa do tempo seco que já dava seus sinais. Dali, tudo parecia tão pequeno. Os carros, as pessoas e a vida.

Uma brisa leve começou a soprar e senti meu corpo tremer com o toque suave do vento. O medo se apoderou de mim e travei todos os músculos.

De repente, minha própria voz ecoou em meus ouvidos, me fazendo arregalar os olhos. A lembrança de minha palavras, com tanta autoridade, com tanta propriedade me fizeram questionar até que ponto o meu incentivo e afirmação eram reais para mim mesma.

Um milagre viria ao meu socorro? Uma mão poderosa me sustentaria? Bastaria uma palavra dEle para que tudo se fizesse novo? Eu cria que sim. Mas vivia o "sim"? Olhei novamente para baixo. Respirei fundo novamente. Mexi os pés, me preparando melhor. Firmei os braços abertos. Com um pequeno sorriso confirmei minhas crenças: saltei no infinito desconhecido e livre do não-saber do futuro e deixei que Deus fosse minha corda e paraquedas, numa queda livre que correspondia não à expectativa alheia a meu respeito, mas à minha própria fé.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Wonderland

"- Since I got here, everyone tell me who I should be and what I should do...
- But you must do it. If you get away from the path...
- I'll do my path now".

A chave está sobre a mesa. Das várias portas, apenas uma se abriria ao encaixe perfeito da fechadura. Do lado de lá, as escolhas seriam consequência da primeira delas: não desistir de alcançar a chave e ter o tamanho exato para passar pela minúscula porta que levaria ao desconhecido mundo que, até então, era pintado de sonho.

Como Alice, me deparo com as portas em um longo corredor. Minhas chances estão estampadas não em uma abóbada fechada e enclausurada por uma uma única opção de saída, mas desfilam diante de mim como inúmeros invólucros fechados. O primeiro passo faz ranger o chão. E a temperatura oscilante faz a madeira tilintar.

Olho para os lados, para cima e ao redor de mim. Em meio a penumbra vejo meus passos inseguros caminhando dentro de sapatos brancos de verniz. Um ruído qualquer ecoa no salão. Tento conter minha ofegante respiração, que se encontra com seu maior medo: o desconhecido.

De repente, uma voz ressoa familiar... "Aproveitem, estúpidos, enquanto o futuro ainda é maior do que passado".

"- You have lost your muchless"...

É hora de escolher o caminho. Ao invés de deixar que me digam quem devo ser ou o que devo fazer, eu digo: desta vez, eu farei meu próprio caminho. A decisão de continuar, de abrir a porta de conhecer o irreconhecível ou de simplesmente sentar e chorar é minha e de mais ninguém. E o que me difere de Alice? Seja qual escolha fizer, no final, não estarei diante do perigo sozinha.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Amarrando as pontas da vida



Desde criança, minha mãe sempre nos ensinou a "amarrar as pontas" do nosso serviço. Isso significava que, ao terminar de lavar o banheiro, por exemplo, o sabão, balde, bucha e tudo o mais que tivéssemos usado na tarefa, deveriam voltar para o lugar que pertencia, isto é, a área de serviço. Todas as vezes que deixávamos os utensílios esparramados, lá vinha minha mãe gritando: "menino! Vem amarrar as pontas do seu serviço!"


Esses dias, essa expressão não sai da minha cabeça. Estou decidida a amarrar as pontas da vida. Tem trabalhos em suspenso, tem ideias não concluídas, tem relacionamentos embaçados, tem vontades não cumpridas. E está na hora de pôr as coisas no lugar.


Não só porque nunca se sabe quando a vida dará uma guinada de 180º, mas também para dar espaço para que novas oportunidades cheguem. Sem ter as barreiras do inacabado me cercando, posso ter a flexibilidade e a mobilidade do talvez e do pode ser. E eu gosto dessas cartas.

Estou amarrando as pontas da minha vida pra poder caminhar pra frente em passos mais largos. Encontrar respostas e decidir o que, afinal, quero fazer daqui pra frente. Saber qual é o próximo passo é sempre um mistério. Mas, se eu canto "o vento sopra, só ele sabe para aonde vai. Quero estar no vento e ser conduzido pela Sua vontade", não posso estar presa a detalhes de uma limpeza concluída, mas não reorganizada.


Estou sonhando com uma nova caderneta, com folhas limpas, páginas em branco, tela escovada, um recomeço. Estou sonhando com uma nova década que se aproxima, com as realizações prometidas, com os desafios que se descortinam e com as possibilidades de ser. E para isto, neste exato momento, estou amarrando as pontas da vida.

E se entre os baldes, escovas, sabões e buchas que detenho ao meu redor, você tem parte, te estendo a mão e convido a me ajudar a limpar meu ambiente que, na sequência, te ajudo a limpar o seu. E vamos abrir as portas de uma vida organizada a um futuro incerto, mas que será precioso.

terça-feira, 2 de março de 2010

No topo da montanha

Acelerado, o coração pulsou. Era mais um dia ensolarado, de um calor seco que nem mesmo a brisa mais cândida conseguiria aplacar. Ainda assim, as mãos suavam frias e nas pontas dos dedos ainda se sentir o vibrar emocionado das lágrimas recolhidas.

Num dia nublado, como em um céu paulista, a alma amanheceu dormente. Apática a qualquer sentimento ou situação. Deu de ombros aos sonhos difícies e longíquos e estagnou-se à ideia de que tanto fazia estar ali ou não.

Os olhos marejados se fecharam, amargurados, em um dia de chuva forte. Os relâmpagos brilhavam lá fora, sob o rugido dos trovões. Choravam o moribundo coração que não se reconhecia mais, envolto em apatia e frieza.

Como um calor sufocante, o sorriso apareceu. Nasceu assim, de uma ideia inesperada. De uma possibilidade desejada. De uma figura imaginada, mas que nunca apresentou o frescor da realidade estampada.
Nasceu assim, da vontade de liberdade e da conquista do almejado segredo: superar a sobrevivência e, em plenitude, viver novamente.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Meu respirar


Faltou ar. Desesperadamente olhei para cima, em busca do precioso oxigênio, e me deparei como céu azul, tranquilo. Acima de mim, as garças voavam, piando e procurando alimento. O sol forte brilhou em meus olhos me fazendo franzir a testa. E nesta contemplação, me esqueci de respirar. Envolta em líquido luminescente, engasgada pela ausência da mistura vital, olhei aos lados e só contemplei o horizonte vazio.

Fechada, encalacrada, enrolada, vedada, selada. No vácuo vazio da existência sem ar. levantei os braços em agonia profunda e desespero crescente. Sobre minha cabeça se estendeu o tapete duro de gelo de uma estação desconhecida. Esmurrei a parede fria, que me impedia de voltar à vida, com a esperança ali fora, a voar com as garças.

Mas o esforço contido pela substância gelatinosa, me fez perder a força e o impacto não provocou mais do que uma micro rachadura no invólucro. Se as lágrimas escorressem pelos olhos, eu choraria.

O tempo, que de 5 segundos foi transformado em eternidade, passou a ser inimigo da minha sobrevivência. Senti que me movia, mas sem ter levantado o pé. Carregada dentro da prisão de gelo. A micro rachadura, por fim, riscou-se em arranhão profundo. Com o mover da caixa, a fenda tornou-se cada vez mais longa. Debati-me.

O sol ainda brilhava, desafiador. O vento demonstrava sua presença com forte golfadas de ar, balançando as árvores nas quais se escondiam as garças. A maresia invadia o receptáculo, trazendo o gosto de mar aos meus sentidos.

Balbuciei palavras perdidas, desenhadas pela ilusão de um novo respirar. Até que a rachadura tornou-se em espaço. Cabia-me um dedo entre a fresta. Com o pouco de força que restava, segurei as bordas com a ponta do indicador. Não era gelo, mas material transparente. A fenda cortava-me as digitais.

Com o sangue escorrendo pelos braços, alcancei a liberdade de uma mão e depois de outra. A chance de sentir o ar atravessando meus dedos me deu novo vigor para enfrentar a parede não mais tão sólida que me prendia. Com a cabeça zonza pela falta de oxigênio e a perda de sangue, empurrei meu corpo contra o vão que havia criado. Com um só golpe, livrei-me de vez da cadeia luminescente. Sentei-me, cansada, meio corpo ainda dentro da caixa. Passei a mão desesperada no rosto, tentando livrar as vias respiratórias do líquido gelatinoso.

Respirei ofegante. E por longo tempo nada fiz a não ser deixar entrar e sair o ar. Limpei os pulmões do gás carbônico. Tossi longamente, expurgando toda minha própria toxina. Até que levantei os olhos e não reconheci meu destino. O mar morria na praia e nada mais se ouvia além de seu murmúrio. E foi então que tudo foi percebido: saía de um pesadelo e invadia meu próximo sonho colorido.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Boneca de pano


Num dia 13 de janeiro, de um novo ano, o desejo de tranformação foi manifestado. Há uma semana ele vinha tomando forma e invadindo os pensamentos da boneca de pano caída no canto do quarto. Sem muita vida, nem muito enchimento, a boneca olhava a parede por um longo período do dia, imaginando se as cores que um dia seus olhos captaram ainda existiam.

Até que pela parede branca se abriu uma pequena rachadura. Do buraquinho que se formou, uma formiga saiu. Depois outra e mais outra e mais outra. A boneca as encarou com curiosidade. E por um instante pretendeu mover os olhos na direção que as formigas caminhavam, tão rapidamente e com tanta segurança.
Sabiam elas onde estavam indo? E por que estavam indo? Por que abandonaram o vão da rachadura? Por que, justo agora, resolveram se mover?

A boneca viu que o número de formigas aumentava a cada instante e logo havia um verdadeiro trânsito delas à sua frente. Mão e contra-mão, as formigas subiam e desciam pelo vão. Ficar quietas não fazia parte de sua rotina. E isso despertou o interesse da boneca.

Um tanto sem forças para se erguer do canto da parede, aquele pedacinho de pano com enchimento foi movida pela vontade de olhar para cima, de procurar outras diversões, de descobrir o mundo em que as formigas passeavam.

Não era fácil. Depois de tanto tempo sentada frouxamente no canto da parede, as pernas não tinham forças para se mover. A cabeça, quase grudada aos ombros, custava para esticar uma fibra. Se tivesse glândulas, a boneca suaria.
A primeira tentativa foi piscar os olhos e acordar do marasmo. Com algum esforço ela piscou. Sorriu e piscou de novo. Depois, girou a cabeça. Girou e olhou em todas as direções. Depois, com a vontade crescendo e a força aumentando, se impulsionou e ergueu o corpinho flácido e quase sem espuma. Se equilibrou nas pernas e deu o primeiro passo.

"Vitória!", pensou, feliz, a bonequinha. Deu outro passo, dominando o desequilíbrio. Firmou a direção e explorou cada canto do quarto. Olhou as paredes e descobriu formigas, aranhas, lagartixas e escorpiões.
Descobriu uma casa que a ninguém mais pertencia. Descobriu que fora esquecida junto ao lixo abandonado. Mas com o ânimo revigorado pela vitória da independência, escalou as caixas perto da janela, escapou pelo buraco aberto no vidro e saiu pelo jardim, pronta a conhecer o mundo que, até então, só existia na imaginação.