Eu descobri que gosto de ser sozinha. Não de estar. Mas de ser.
Não sou uma filósofa da vida. Não sei traçar teorias mirabolantes sobre o cotidiano. Não chego perto das percepções de Carpinejar*. Não defino gostos fixos e vontades estáticas.
Descobri, esses dias, que tenho, sim, um local preferido para comer, mas que não me impede de diversificar. Não sou uma xiita da rotina e dos meus desejos.
Gosto de andar sozinha pelas ruas, observar os transeuntes e rir com eles de seus tropeços. Ir ao cinema é uma terapia que faço só, num relacionamento que se resume entre minha poltrona e o personagem na grande tela. Escrever aleatoriamente me ajuda a organizar meus pensamentos e desvendar minha alma. Andar por uma livraria me faz sonhar com uma vida que não tive, mas que almejo.
Estou sozinha por alguns anos. E isto me ajudou a me descobrir, a criar manias só minhas, a peneirar meus cortejos pessoais, a me aceitar, a corrigir chatices que nem eu suportava. Estar sozinha me ensinou a SER sozinha. A apreciar a minha companhia. A desejar um tempo só comigo.
Me lembro da insistência da Marcia para que eu viajasse sozinha, para um local em que eu pudesse me concentrar em mim e minha resistência em fazê-lo. Em perscrutar minhas emoções, sentimentos, pensamentos e esta leitura de mim, que era tão dolorosa. Um agradecimento a ela, pelo empurrãozinho sábio que me deu, ao me incutir a ideia de me conhecer.
Hoje, estou feliz. Realizada com quem me tornei, com quem sei que sou, com o futuro próximo que decidi pra mim. Assim, sozinha.
Hoje eu até posso dizer que estou melhor preparada para deixar a solitude e me permitir pensar em passar a ser mais do que só uma no meu castelo.
(*Fabrício Carpinejar é um poeta e cronista brasileiro)
Um comentário:
Ler isso me fez desejar ser sozinho, e confesso que tenho atualmente tenho muito medo disso. E... sim, preciso faze-lo, mas qualquer dia desses, não hoje...
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