Faltou ar. Desesperadamente olhei para cima, em busca do precioso oxigênio, e me deparei como céu azul, tranquilo. Acima de mim, as garças voavam, piando e procurando alimento. O sol forte brilhou em meus olhos me fazendo franzir a testa. E nesta contemplação, me esqueci de respirar. Envolta em líquido luminescente, engasgada pela ausência da mistura vital, olhei aos lados e só contemplei o horizonte vazio.
Fechada, encalacrada, enrolada, vedada, selada. No vácuo vazio da existência sem ar. levantei os braços em agonia profunda e desespero crescente. Sobre minha cabeça se estendeu o tapete duro de gelo de uma estação desconhecida. Esmurrei a parede fria, que me impedia de voltar à vida, com a esperança ali fora, a voar com as garças.
Mas o esforço contido pela substância gelatinosa, me fez perder a força e o impacto não provocou mais do que uma micro rachadura no invólucro. Se as lágrimas escorressem pelos olhos, eu choraria.
O tempo, que de 5 segundos foi transformado em eternidade, passou a ser inimigo da minha sobrevivência. Senti que me movia, mas sem ter levantado o pé. Carregada dentro da prisão de gelo. A micro rachadura, por fim, riscou-se em arranhão profundo. Com o mover da caixa, a fenda tornou-se cada vez mais longa. Debati-me.
O sol ainda brilhava, desafiador. O vento demonstrava sua presença com forte golfadas de ar, balançando as árvores nas quais se escondiam as garças. A maresia invadia o receptáculo, trazendo o gosto de mar aos meus sentidos.
Balbuciei palavras perdidas, desenhadas pela ilusão de um novo respirar. Até que a rachadura tornou-se em espaço. Cabia-me um dedo entre a fresta. Com o pouco de força que restava, segurei as bordas com a ponta do indicador. Não era gelo, mas material transparente. A fenda cortava-me as digitais.
Com o sangue escorrendo pelos braços, alcancei a liberdade de uma mão e depois de outra. A chance de sentir o ar atravessando meus dedos me deu novo vigor para enfrentar a parede não mais tão sólida que me prendia. Com a cabeça zonza pela falta de oxigênio e a perda de sangue, empurrei meu corpo contra o vão que havia criado. Com um só golpe, livrei-me de vez da cadeia luminescente. Sentei-me, cansada, meio corpo ainda dentro da caixa. Passei a mão desesperada no rosto, tentando livrar as vias respiratórias do líquido gelatinoso.
Respirei ofegante. E por longo tempo nada fiz a não ser deixar entrar e sair o ar. Limpei os pulmões do gás carbônico. Tossi longamente, expurgando toda minha própria toxina. Até que levantei os olhos e não reconheci meu destino. O mar morria na praia e nada mais se ouvia além de seu murmúrio. E foi então que tudo foi percebido: saía de um pesadelo e invadia meu próximo sonho colorido.
7 comentários:
simplesmente fantástico...
Cara Lê Cami,
Este texto provoca uma sensação de angústia pela viscosidade das cenas que vai descrevendo.
Já na parte final fica no ar a sensação de que a cena que vinha descrevendo se tratava do nascimento de alguém.
Gostei do seu blog. Descobri-o casualmente e agora procurarei acompanhar nos próximos tempos para pdoer confirmar essa impressão positiva inicial.
Cordialmente,
Marcelo Melo
www.3vial.blogspot.com
Olá estou lhe fazendo uma visita, gostei muito do seu trabalho.
Sinta se a vontade para me visitar
http://araretamaumamulher.blogspot.com/
fique na luz e na paz
LINDO !!!
ameiiiiiiiiiiiii :D
jáá sigo. ;)
Muito bonito seu texto! Descreve com minuciosidade cada passagem...Meus parabéns!
Beijos e bom final de semana.
Ao ler seu texto, tive a impressão de viver seu pesadelo!
Parabéns!
Boa semana!
Adorei demasiadamente o blog .
Estou seguindo ;)
Beijos
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