Tirando o tom poético, a ilusão da literatura, o que encontro é pura e simplesmente a verdade da minha vida. O medo de desagradar a platéia que me cerca me leva a manter vivo por muito tempo o impostor que vive em mim, conforme bem o descreveu Brennan Manning. E a partir daí, com o impostor reinando, pacifico o que deveria ser extirpado de mim e do meu contexto.
O impostor arranca das minhas mãos o compromisso perene e me faz andar como o bêbado da madrugada. Hoje atuo com seriedade austera, amanhã, me desleixo boemicamente, numa atitude apática e desrespeitosa com quem eu realmente sou e com o que me propus fazer.
O impostor arranca das minhas mãos o compromisso perene e me faz andar como o bêbado da madrugada. Hoje atuo com seriedade austera, amanhã, me desleixo boemicamente, numa atitude apática e desrespeitosa com quem eu realmente sou e com o que me propus fazer.
A falta de equilíbrio em qualquer coisa que temos e fazemos na vida é pernicioso. Não há solução, futuro ou atuação que seja benéfica neste sentido. Ou agimos como fariseus, com dedos apontados para o mundo, condenando os que não seguem as "regras" de moral e bons costumes em que nos amarramos; ou largamos tudo à mingua, rindo sem sentido, de forma barulhenta do moralismo que nos deixamos ser levados. Em qualquer das duas situações, tornamo-nos escravos, presos a conceitos, a teorias e a fardos que nem mesmo nós podemos suportar.
Uma vida de equilíbrio, sem pender nem para a direita, nem para a esquerda é possível? Nem tanto ao mar, nem tanto à praia. Nem oito, nem oitenta. Nem bêbados, nem carolas. Mas racionalmente emocionais, emocionalmente racionais. Equilibrados, pé ante pé, com passadas firmes, definidas, decididas, humildes, conscientes e destemidas.
Equilíbrio é saber que não somos totalmente maus, e tampouco totalmente bons. É ter ciência de quem somos, quais são nossos talentos, virtudes e preciosidades; mas também não ignorar nossos defeitos, erros e lamúrias. É não se deixar ser levado pelo sentimento de vitimização constante, mas também não ser eternamente culpado.
Manter-se estável é tirar o controle do impostor e deixar que o verdadeiro "eu" ressurja da escuridão, e assuma o que é seu por direito: uma vida honesta, leve e, se possível, equilibrada.
Um comentário:
Lê, te achei num dos meus saltosm profundos. Belíssimo texto, o teu!
Equilíbrio... Adoro o equilíbrio do pêndulo!
E a imagem que você usou me fez lembrar que também adoro dançar numa corda bamba de seda, à beira do abismo.
Flores.
Postar um comentário